Data foi estipulada para conscientização do tema
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo, cerca de 95% são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O país vinha em um crescimento gradativo de doações, e embora os números positivos dos últimos anos, em junho de 2019, ainda haviam mais de 40 mil pessoas na lista de espera para doação. Essa é uma perspectiva que pode mudar com o aumento no número de doadores. Por isso, a conversa sobre doação de órgãos precisa estar em pauta no dia a dia, datas como o Setembro Verde e o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos surgem com este objetivo.
Mas afinal, como acontece o processo de doação? Existem duas formas: em casos de morte encefálica, e as doações feitas em vida. Segundo o médico anestesiologista, Leandro Bernardes - CRM 23358, nos casos de morte encefálica, é feita a identificação e notificação do paciente e então realiza-se um protocolo de exames clínicos e de imagem, a fim de confirmar a condição. Se de fato confirmada a morte cerebral, e houver a possibilidade de a doação acontecer, a família é contatada e iniciam-se os trâmites. Segundo Leandro, a captação dos órgãos é realizada por uma equipe especializada no centro cirúrgico.
Na doação feita em vida, o procedimento é feito entre familiares até o quarto grau de parentesco, e em casos de terceiros é necessária uma autorização judicial. Leandro explica que os riscos da doação estão inerentes à uma anestesia, por este motivo são realizados exames pré-operatórios para diminuir tais perigos. Conforme o médico, a doação entre pessoas vivas é permitida somente se não acarretar em nenhum tipo de problema a saúde do doador.
Após identificado os doadores e realizada a doação, é feito o transporte dos órgãos, o qual conta com um protocolo rígido. “Cada órgão é embalado, identificado e lacrado em caixas próprias para o transporte, pois possuem recomendações específicas, como tempo máximo entre captação e transplante, temperatura a ser mantido, etc. Todo processo é supervisionado por profissionais médicos e enfermeiros”, esclarece Leandro.
De acordo com o médico, a principal dificuldade do transplante é a rejeição, quando as células de defesa interpretam o órgão transplantado como “estranho”, e o atacam, mas há como solucionar. “Existem medicações imunossupressoras que são usadas pelos pacientes transplantados para diminuir a chance dessa complicação. É necessário usar a medicação pelo resto da vida”.
Com tantos recursos e avanços apresentados pela medicina, e se o Brasil tem dado passos largos no que diz respeito aos transplantes, o que falta para diminuir a fila de espera? Para Leandro, cada vez mais está se desmistificando sobre assunto, ele considera que com o passar dos anos a conscientização sobre a doação aumentou, mas ainda assim, uma das principais causas é a negativa da família para abertura do processo de doação. "É necessário empatia, colocar-se no lugar das famílias que aguardam doação de órgão para perceber a importância da doação", conclui o médico.
COVID-19 e o impacto nas doações
A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), divulgou em agosto um levantamento onde o Brasil apresenta queda de 6,5% no índice de doadores efetivos, se comparado ao primeiro semestre de 2019, e 26,1% em comparação aos dois primeiros trimestres de 2020.
Com a chegada da pandemia, houveram alguns ajustes de funcionários da saúde para auxiliar nos setores de combate à Covid-19. Em alguns casos, os espaços destinados ao setor de doações foram ocupados para atender os pacientes com coronavírus. Todo esse cenário resultou em alterações nas taxas relacionadas a doação de órgãos, e a campanha tornou-se ainda mais necessária.