A internet trouxe para o mundo milhares de oportunidades, entre tantas coisas, o fácil e rápido acesso à informação pode ser destacado. Centenas de sites de notícias e blogs foram criados, concedendo espaço para assuntos que antes eram pouco pautados, considerados tabus, como a saúde mental. Até mesmo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), abordou como tema da redação de 2020, o tópico: 'O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira'.
Conforme matéria divulgada pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), uma pesquisa feita pela International Stress Management Association (Isma – BR), apontava que nove em cada dez brasileiros presentes no mercado de trabalho tinham sintomas de ansiedade, e 47% sofriam com algum nível de depressão. Somente 18% das empresas mantinham, na época, um programa voltado à saúde mental dos colaboradores.
É bem provável que você conheça alguém que se encaixe nos dados acima. Segundo a psicóloga, Marta Broch, atualmente quando se fala em problemas ligados à saúde mental dentro do ramo psicológico, é como falar de uma nova pandemia. "Os casos foram aumentando muito, inclusive os com relação à saúde mental no trabalho, e boa parte são casos de ansiedade, estresse e depressão. Embora ainda haja uma certa resistência com a procura por ajuda psicológica, é possível perceber uma evolução neste sentido".
Para a psicóloga, a mídia tem ajudado a mudar essa realidade, e ações como o janeiro branco e setembro amarelo auxiliam a população a entenderem que estas doenças existem e precisam de atenção. Mesmo com o destaque do tema nos últimos anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é um campo ainda negligente nos países, pois recebe em média 2% do orçamento destinado para saúde.
Ainda segundo a OMS, o Brasil é o segundo país da América com maior número de pessoas depressivas, cerca de 5,8% da população. O país é também o que apresenta mais quadros de ansiedade.
Saúde mental no trabalho
Existem algumas práticas que podem ser consideradas prejudiciais à saúde mental das pessoas, principalmente no trabalho. Em entrevista, Marta explicou que os principais fatores de risco nas empresas são a má comunicação e má gestão. "As pessoas quando entram em uma empresa, esperam ter um aprendizado, uma carreira, crescer ali, serem reconhecidos... Principalmente a má comunicação é uma das coisas que desgasta muito o ambiente de trabalho, quando acontecem os retrabalhos, e em seguida vem a má gestão", esclarece.
De acordo com a psicóloga, outros fatores devem ser considerados, como: participação limitada na tomada de decisões, pouco apoio da direção/gestores, falta de flexibilidade nos horários, falta de ações da empresa para engajar a equipe, como confraternizações e benefícios.
"Quando o colaborador se sente como uma 'máquina', acontece de permanecer na empresa por necessidade. Então a pessoa fica, mas não tem nenhum tipo de vontade de estar naquele lugar. Perde totalmente o interesse pelas ações da empresa, por qualquer coisa que a empresa for fazer, e até mesmo pelo próprio ambiente de trabalho. Interfere diretamente no processo produtivo da pessoa", conclui a profissional.
Empresas atentas ao psicológico dos funcionários
Assim como o país promove campanhas voltadas à saúde mental, em algumas empresas os setores de Recursos Humanos e Saúde e Segurança no Trabalho, também desenvolvem atividades internas no sentido preventivo. "Essa forma de olhar mais para a saúde do colaborador vem crescendo muito nos últimos anos. Aumentou a preocupação das empresas enxergar o lado psicológico das pessoas, começaram a fazer mais ações, se importar com os problemas pessoais", disse Marta.
O colaborador que está com o psicológico abalado, normalmente apresenta alguns sinais, a profissional explica que alguns podem se isolar dentro do ambiente de trabalho. "O funcionário passa a ver problemas em todo mundo e em toda a empresa, até mesmo a produtividade é afetada". Neste quesito, de acordo com a psicóloga, o setor de recursos humanos deve exercer um papel importante de percepção e acolhimento.
"O RH é o primeiro contato do funcionário na empresa, são as primeiras pessoas que ele conhece, e também são as pessoas que cuidam da vida dele dentro da empresa. Muitos ainda têm esse bloqueio de que pedir ajuda, acham que é sinal de fraqueza, mas tem algumas pessoas que entenderam que não precisam lidar com os problemas sozinhos. Já é mais natural que o colaborador relate quando está com problema, uma abertura maior que existe com as empresas", finaliza.